sábado, 6 de março de 2010

Jesus, a Pedagogia e a Retórica

Durante alguns anos, lecionei Retórica e Argumentação nos cursos de Direito. Uma das técnicas argumentativas que ensinava aos futuros advogados era o Recurso de Presença. Essa técnica consiste no emprego de procedimentos que têm por objetivo ilustrar a tese que pretendemos defender para fazer com que o interlocutor, ou auditório, seja persuadido a aceitá-la. São vários os procedimentos, entretanto, o melhor recurso de presença são as histórias. Um argumento apresentado por um Recurso de Presença tem efeito redobrado sobre o auditório. Mas isso não é nada original, nem foi criado pelos retóricos gregos, ou neo retóricos, tampouco pelos pedagogos. Jesus já utilizava com propriedade as parábolas como recurso de presença e, antes dele, outros personagens bíblicos faziam uso dessa técnica argumentativa e pedagógica.
Os judeus, desde os tempos do Antigo Testamento, usavam as parábolas como recursos didáticos. Entre as inúmeras pessoas que usaram este recurso a fim de comunicar uma mensagem clara e acessível encontramos o Profeta Ezequiel e os Sábios de Israel. Eles assim o faziam porque uma verdade ficava mais clara e inteligível ao povo quando era acompanhada de uma narrativa que colocava a realidade a ser percebida com a história a ser contada.
Quando Jesus ensinava usando a parábola Sua intenção era comparar um episódio do cotidiano com uma realidade espiritual. Esta é a principal razão pela qual repetidamente a parábola se inicia com o adjetivo “semelhante”, que também significa “da mesma natureza”, “igual” ou “similar”.
Um dos principais objetivos da parábola é provocar a imaginação e a consciência dos ouvintes de modo que ele se identifique com os personagens da narrativa. Essa é a intenção dos advogados, promotores, professores, pregadores...
Jesus empregou as parábolas com dois objetivos principais: didático e teológico. No primeiro, assumia a função do sábio, e, no segundo, a do rabino. Esta distinção deve ser entendida didaticamente, posto que o rabino era tanto sábio como teólogo.
Como sábio Jesus demonstrava a loucura em construir uma “casa na areia” ou mostrava a insensatez de se “confiar na própria riqueza”. Conselhos não muito distantes daqueles praticados pelos sábios de Israel nos idos do Antigo Testamento. Veja, por exemplo, o “dito metafórico” de Lucas 4.23: “Médico, cura a ti mesmo”. Nesse caso, temos então, uma parábola que estabelece uma comparação direta ou metafórica. Percebe-se, portanto, que o ensino parabólico é direto e simples, a fim de que toda audiência possa compreender a insensatez ou a sabedoria demonstrada pelos personagens da parábola. Desde criança somos acostumados às histórias fictícias ou reais, contos de fadas, fábulas, aventura, mistério, histórias de amor e até mesmo as narrativas do dia-a-dia fazem parte de nossa construção de significados e conhecimento.
Jesus, como um grande Mestre, um magnífico pedagogo, soube explorar esse recurso e nos ensinar também as técnicas argumentativas.
Uma vez compreendida a mensagem por detrás da comparação, os ouvintes são conduzidos a comparar a história contada e a realidade vivida. As histórias simples, contadas por Jesus, tornavam-se uma verdade prática, e eram possíveis de ser entendidas por todos, uma vez que cada um poderia trazer o significado para o seu universo particular.
As comparações usadas por Jesus não apenas apresentavam uma verdade, mas também condenavam atitudes arbitrárias, injustiças sociais e hipocrisias religiosas. Seu ensino não era apenas anunciação do Reino dos Céus, mas também denúncia dos pecados dos homens.
Com Jesus aprendemos não só a argumentar, mas a fazer da palavra um instrumento de ação em prol de uma humanidade melhor. Tanto os professores da Escola Bíblica como da academia secular, somos instigados pelo exemplo de Cristo usar a palavra no seu sentido maior, como uma gênese criativa, a elevar nossos alunos, a provocar sua transformação.






Profa Aya Ribeiro

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